segunda-feira, 30 de março de 2009

Amor, namoro, romance e o celular.

Fiquei hipnotizado pela minha ignorância e por minha idiotice de não entender o porquê daquela confusão. Promoção! Promoção!
Anunciava-se aos quatro cantos doe seu coração e ganhe um celular novinho, pequeno, cabe na palma da mão, alias em qualquer palma de mão.
Celular, como já foi chique! Hoje banalizado. Todos o têm, é popular, portanto não adequado a alguns nichos sociais.
Mas deixemos tais nichos, o importante é a promoção, do coração ao celular, aliás, totalmente esdrúxula do ponto de vista da normalidade humana.
Dias atrás andando por minha cidade me deparei como uma questão, onde estão os nobres corações, que em tempos áureos da vida de meus avós eram tema de conversas em cafés, currais, porteiras, esquinas, vendinhas. Ah! As vendinhas. Hoje só se fala de celular.
Lembro de minha mãe contando dos namoros de antigamente, voltas e voltas ao redor da praça da matriz, pegar na mão nem pensar, proibido, engravidava.
O que se via ali era um amor incondicional, não queriam saber se havia química e nem como era a cama, aliás, algumas nem sabiam que isso fazia parte do ritual do casamento. Somente queriam viver o romantismo, os suspiros, os deslizes dos dedos a procura da mão amada, e ao encontrá-la o vermelho de uma timidez notória a nortear as maçãs do rosto da mulher amada.
Lembro de mamãe me contando que as voltinhas na praça, nunca de mãos dadas, eram após a missa das nove horas da manhã. À noite nem pensar, não era algo que moça de família poderia fazer. Imaginemos nós a namorar após a missa das nove da manhã, em nossa querida Palmas. Terrivelmente complicado.
Ah! Histórias que ainda perduram no fundo de minha mente, tempos de ingenuidade, de amor imaturo, incondicional. Tempos que não voltam mais.
Imagino mamãe analisando os dias de hoje, onde o amor banalizou, o coração não passa de um órgão propício ao enfarte, a ponte de safena e nada mais. Até o celular já ficou para traz.
De repente toca uma música estridente, e o namoro via mensagem de celular começa:
- Bom dia amor tenha uma ótima manhã, disse um nokia, modelo ultima geração.
- Bom dia responde um motorola, empolgadíssimo quase num delírio, estou bem, apenas uma correria aqui no trampo, mas mais tarde conversamos.
Tudo seria comum se ao responder esse romântico diálogo, o motorola não estivesse na frente de um HP, ao delírio festejando mais um scrap respondido no Sr. Orkut, de uma maravilhosa fotografia loira do outro lado do país a 2000 km de distância.
Tudo ficou fácil, rápido e prático. Não acham?
Namoro, via internet, mensagens de celular. Mas e os valores onde estão?
Tempos atrás estava eu a discutir com uma amiga um assunto econômico da mais extrema importância, dez minutos de conversa e eu queria inserir o celular dela no círculo de discussão, havia recebido quinze mensagens e pasmem, respondido a todas. Acredito que tenha respondido até a mensagem do valor restante de seus créditos.
Inacreditável? Que nada. Umas das mensagens era de seu namorado, terminando o namoro, ela me contou, ou melhor, leu o texto completo.
“Querida (nota-se aí uma falsidade inestimável)! Não dá mais bele? Encontrei uma gata massa que faz loucuras, valeu pelos rolos e té +”.
A princípio queria passar mal, parecia que tinha bebido um barril do mais gelado chop em dia de 40 graus. Depois analisei friamente a mensagem, começando pelo querida, deu-me a impressão de sentir os tapinhas nas costas. O restante da frase, bem nem preciso comentar. Fiquei chocado, não por minha amiga, mas pelo seu siemens que estava passando por tudo aquilo. Uma máquina de ultima geração, com muitos recursos, tendo que encarar aquela frase. Mas ele suportou.
Quanto a minha amiga, bem ela respondeu: - “bele”.
Realmente a tecnologia de ponta nos ajuda a simplificar muitas coisas. O celular então nem se fala, porém quando usado adequadamente. Mas não nos preocupemos, pois este já está ultrapassado, brevemente teremos que arrumar outro objeto de ostentação.
Mensagem para você, scrap para você, recado para você, frases corriqueiras que fazem parte de nosso dia-a-dia.
E o amor onde o deixei? Bem existe uma forma de falar de amor nos dias de hoje sem utilizar um bom, sofisticado e caro celular, além da boa internet ADSL banda larga? Acredito que não.
E para os românticos, que ainda acreditam e procuram um grande amor, resta-lhes conversar mais com seus pais e avós, pois só assim saberão como era um amor incondicional.
Aos demais contemporâneos, consumistas, esperem pela próxima novidade, pois tenho certeza que todos já estão ultrapassados com seus brinquedinhos agora populares.

Vanildo Lisboa Veloso 07/07/2006.

Discurso de despedida

Quando a ti estas palavras chegarem,
póstumas de um ser transtornado
pela escuridão de seu coração,
sufocado por algo que deixou de viver,
mergulhado em seu mar de ilusões sombrias;
talvez eu não esteja mais aqui
E este seja o meu discurso de despedida.
Venho falar das ilusões da vida
da vontade de viver e vencer
da garra, força, coragem,
que aos poucos foram sendo sufocadas
pelo sentimento mundano de desprazer e insatisfação.
Talvez tenha errado em te desejar,
em viver por ti não pensando em mim,
em desprezar minha essência em função da tua
em pensar que o mundo é feito de amor.
Digo então que não me arrependo
pois não teria mais tempo de
consertar os erros do passado
inevitavelmente a hora chegou
e o que me resta dizer é que vivi.
A vida é para quem não deixa os sentimentos
sufocar um coração que não sabe deixar de amar.
Amor e sofrimento se juntam,
a frieza de um ser na obscuridade
de um suburbano coração,
que jamais faria nada por ti;
que bateria sempre em função
dos raros momentos de suspiro alheio.
Atormentado estou neste momento,
por não saber nem em meu
discurso de despedida, expressar e interpretar
o que se passa nesse mar de lamas que é minha mente.
Talvez não queira dizer, mas
esse velho coração cansado de sofrer,
clama por um ultimo suspiro de ilusão,
por algo a acontecer,
por amor, por dor, pela despedida.
Para você dedico meu coração,
minha mente, meu corpo e
todas as minhas sublimes confusões.

Vanildo Lisboa Veloso 03/12/2002

quinta-feira, 26 de março de 2009

As ondas do lago de Palmas.

Não há nada que me deixe mais frustrado do que abrir um jornal na página da “puxação” de saco social. Aquela em que é colocada às fotos das pessoas da alta, dizendo o que elas fizeram ou deixaram de fazer. Meus Deus! O que isso acrescenta em minha vida? Nada.
Mas deixemos essas páginas intocáveis de qualquer jornaleco para outro momento para falarmos apenas de uma sociedade contemporânea, fútil, vazia e pré-estipulada em sua essência, se é que ainda existe essência.
Estava eu a perambular pelas avenidas de minha querida Palmas, quando me deparei com um vazio espiritual muito grande. Comecei a rever meus conceitos.
Hoje cada vez mais nos preocupamos com nossa estética, com o padrão de beleza, com as roupas que vestimos, com o carro que andamos, ou seja, com o que está em evidência aos olhos dos outros. E esquecemos que até a própria moda é algo de nossa personalidade. Até para nos apaixonar olhamos pra essas futilidades, roupa da moda, cabelo da moda, inteligência da moda, inteligência?
Deixemos o que está em evidência aos olhos dos outros e percebamos que tudo é questão de tendência própria, de estilo pessoal, de usar a inteligência que ainda temos para pelo menos conseguir combinar as peças do guarda – roupa, sem precisar substituí-las a cada salário sofrido que recebemos por mês e que serve praticamente para isso. Será que conseguimos fazer pelo menos isso?
Bem, acredito que não. Vivemos em uma mediocridade(sociedade) capitalista onde na realidade damos importância exacerbada a padrões comportamentais pré-moldados . Não conseguimos por um instante dar ênfase a nosso estilo pessoal, ser apenas nós mesmos.
Um conhecido, dias atrás, me disse que está na moda usar cordões de prata, cada qual mais grosso que o outro; verdadeiras correntes de cachorro, é chique, são fundamentais, sem tais cordões não nos inserimos na sociedade. Fiquei apavorado, na mesma hora saí igual um doido e fui à feira do bosque (da qual não gosto muito) comprar um colar de semente de açaí. Será que a sociedade vai me aceitar?
Outro dia caminhando na praia um conhecido me olhou e disse que já não se usava mais sungão (e eu de sungão), que a moda é bermudão de surfista, que quem não usar o tal bermudão estará fora do contexto. Fiquei pensando, “que coisa acabei de comprar meu sungão e agora bermudão de surfista”? O que não entendi até agora é onde estão as ondas do lago de Palmas?
Há momentos que não tenho vontade nem de sair a rua, acredito ser melhor ficar em casa assistindo aos poucos, porém, bons dvd’s que tenho. Sair para que? Para ouvir “lapada na rachada”, “risca faca” e demais letras maravilhosas, que muito nos acrescentam. Realmente, não quero a nenhum momento me inserir neste tipo de sociedade. Prefiro viver a margem dela.
E os 90% de marca que tentaram me vender na ultima semana, ia me esquecendo. Uma camiseta, R$ 200,00, pagaria pela exclusividade. Que não comprei essa exclusividade não é novidade. A novidade é que numa lojinha de uma esquina qualquer, vi uma replica idêntica da oitava maravilha por R$ 15,00. Tenho certeza que irão falar da qualidade, prefiro comprar a de 15 e usar 3 vezes do que comprar a maravilha e ter que usá-la todas a vezes que for sair, e olha que saio muito. Questão de personalidade própria, apenas.
Mas deixemos isso pra lá, vamos falar de inteligência, cultura, bom senso, simplicidade, paz de espírito, intelecto, esperança. Não, não vamos, não dá ibope.
Por hora fico com o bermudão de surfista e as ondas do lago de Palmas. E está ótimo. Alias, comprem suas pranchas, pois essa é a novidade do verão.

Vanildo Lisboa Veloso 04/07/2006.